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domingo, 7 de abril de 2019

Trilha No Monte Roraima - relato de viagem mochileiro raiz

MONTE RORAIMA 

"Neste relato o Viajante Marcelo Nogal, da dicas sobre as trilhas para subir ao cume do Monte Roraima na Venezuela e chegar à yacuzzi!"  

Um mar de cinzas 

(Clique na imagem para ser redirecionado para o novo Site e ler o relato)




























Guias e porteadores contratados na cidade de Huaren, tudo ridiculamente barato para os padrões brasileiros! Marcos seria nosso poeta, que nos conduziria por entre as savanas e vales montanhosos da Venezuela, acertamos com ele uma jornada mais ousada, queríamos fazer o percurso de três dias em apenas dois até o cume do Tepui e fazer em mais dois dias o que fazem em três lá arriba!

Para se chegar até o vilarejo onde se inicia a trilha, somente com um carro 4x4. Enquanto os porteadores arrumavam as mochilas que iriam carregar, fazíamos um lanche antes de começar a caminhada, e, não foi um lanche nada convencional... Pão com formiga apimentada! Quando mastigava o pão sentia as bundinhas das formigas estralar entre os dentes e na sequência a ardência invadia a boca e a garganta adentro! Queroooo águaaaa...
Na primeira parte da trilha caminhávamos pelo planalto da savana, por um caminho fácil com algumas elevações. Ao fundo no horizonte distante os tepuis imponentes ganhavam destaque se alevantando até as nuvens, um deles era o nosso destino “Monte Roraima”! Olhando a distância parecia impossível subir aquele paredão vertical de dois mil metros de altura! Assim foi nosso primeiro dia de caminhada, admirando o Monte Roraima em seus nuances: com nuvens, com céu azulado, com o paredão mudando de cor de acordo com o giro do sol...
Atravessamos um rio e chegamos à área de acampamento, no final da tarde, foi o momento que conhecemos em todo seu furor os famosos “puripuri”, eram milhares e milhares de pequenos mosquitos tentando nos devorar... Passávamos repelentes, mas aqui pareciam ser inúteis contra esses insetos... A única saída era improvisar uma burca, para fugir das picadas fatais dos puripuris! Os nativos do vale eram imunes aos insetos, pois ao comer as formigas, seus corpos produziam repelentes naturais aos mosquitos! As formigas que comi ainda não tinham produzido o efeito esperado, levava tempo para o processo... Os malditos sedentos por sangue furavam até meu zoio!!
A alimentação era sempre farta e deliciosa produzida pelos porteadores cozinheiros: Chá, panquecas de queijo, frutas... Depois do café seguimos nossa jornada, hoje faríamos em um dia o que geralmente é programado para dois: Na primeira parte cruzamos um vale muito bonito, era a transição da natureza da savana para a região montanhosa, então a paisagem tornou-se muito diversificada, até que chegamos sem muito esforço até o paredão vertical, foi quando pude tocar pela primeira vez no tepui, e, sentir a energia de um dos locais mais antigos do mundo, ainda com reminiscências da Pangeia!
Paramos para o almoço antes de começar a subida de mil metros até o cume, uma salada de repolho e atum, arroz, frango e pão com formiga culona... Durante o percurso cruzávamos com alguns rios, alguns com água potável, outros não, devido a um grande teor de ferro misturado com o H2O... Começamos a subir o paredão, era íngreme, mas não era de difícil escalada, só a primeira parte que se deve tomar mais cuidado, por ser lamacento, e, com poucos lugares apara se apoiar, mas logo a subida se transforma numa mata fechada, linda floresta de diversos tons de verdes cercado de emaranhados de árvores... Até que a trilha nos conduz para o primeiro momento mágico da viagem, saímos da mata fechada e nos deparamos com as cachoeiras que formam os olhos que choram do tepui, as lágrimas voam do cume! Atravessamos aquela breve chuva encantados com a paisagem que se forma... Momento esse de parar e se deslumbrar com o vale! Com o paredão, a cachoeira, talvez algum arco íris a se formar e a savana lá embaixo pintando o horizonte com um mar verde.
No final da tarde chegamos ao cume! Parece outro mundo, talvez um pedaço da Lua que caiu do céu, vemos um vasto planalto de pedras acinzentadas, os puripuri não chegam até aqui, o clima se torna mais frio e úmido, no lugar dos mosquitos estão centenas de sapinhos pretos, minúsculos, geralmente dentro de uma poça d´agua, naquele sistema hostil as pedras vão ganhando diversas formas: de tartaruga, jacaré, cabeça de macaco, de Deuses, ou o que sua mente possa idealizar... Até que chegamos a uma caverna, onde montamos nosso acampamento!
O terceiro dia foi dedicado a explorar o cume do Monte Roraima, caminhar pelas pedras não era um processo fácil, a chuva constante formava charcos entre as rochas, tínhamos que ir pulando de pedra em pedra, o tempo era inconstante lá encima, ora chovia, ora ventava, ora uma neblina cobria o vale, ora o arco íris se exibia! Tudo que ganha forma além das pedras é minúsculos: a vegetação, diversas formas de plantas carnívoras, pequenas frutinhas alaranjadas... A trilha era uma mancha branca no chão...
Chegamos ao vale dos diamantes, com uma enorme quantidade de quartzo pelo chão, ainda presos nas pedras, levar algum daqueles cristais é proibido, quando voltamos ao vilarejo onde se inicia a trilha todos são revistados e a multa é pesada, melhor só observa-los ali postos na natureza, mais adiante chegamos à pedra que marca a tríplice fronteira sobre o Tepui: Guiana, Brasil e Venezuela! A caminhada continua e a nossa frente sempre uma nova surpresa, agora um poço dourado surge do nada no meio daquelas rochas sem cores, ele é lindo! Por outra trilha de difícil grau de escalada descemos até a caverna de águas douradas, chegamos no fundo do poço dourado, águas escorrem pelas paredes da caverna, brilham com o reflexo do dia, dando uma beleza ao local! Depois de tantas paisagens deslumbrantes, chega à noite e junto vem o frio intenso, e para conseguir ver o espetáculo das estrelas vagando pelo céu só tomando um run venezuelano...
No último dia antes da descida, desbravamos outras regiões do vale, vamos até as belas yacuzzes de águas congelantes, mas de cenário estonteante! Depois chegamos a um vale com sua formação rochosa singular, margeado por um rio esverdeado, que forma pequenas lagoas, chamado de vale do amor, para os apaixonados fazerem seus pedidos... No final desta jornada, chegamos a janela dos sonhos, mais uma paisagem incrível de tirar o fôlego, onde podemos nos sentir no topo do mundo, de lá avistamos todo o vale, e o paredão do Monte Roraima fazendo suas curvas... É um dos mirantes mais belos que vejo em minha vida! Que poderia escolher como momento máximo desta jornada pela Venezuela!

Mas antes de descer o tepui ainda dá tempo de ir a outro mirante, subir o Maverick, já dá até pra imaginar como é o formato dessa montanha sobre o tapume né? Rsrs! Poucos são os mochileiros que o sobem, e daqui outra vista magnifica, mas essa de todo o cume do monte Roraima e seu relevo lunar, Maverick é uma das partes mais altas do Tepui, de lá fico com a última lembrança do Roraima, o mar cinzento de pedras...
Hora de voltar, mas antes de encerrar está crônica de viagem,tenho que deixar uma adendo, aos heróis dessa jornada... Os porteadores! Humildes venezuelanos que andam pra cima e pra baixo desse tepui carregando nas costas mais de 20 quilos! Geralmente ganham uma miséria das agências de turismo local, tem uma vida profissional e de saúde curta, boa parte estão com os joelhos estourados com os pesos que carregam... Desta forma a negociação sem o intermédio das agências foi gratificante, fazendo com que eles ganhem um pouco mais com os serviços prestados... E ao descer o Tepui, temos uma triste recordação, os puripuris estão de volta pra animar a expedição! Um mar negro nos suga...